quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O meu chefe

O meu chefe é um banana, como já te tinha dito.
Mas sabe safar-se ao trabalho com uma arte que é de espantar!

Somos cada vez menos pessoas, por isso temos de dividir as tarefas da melhor maneira, apesar do trabalho não ser muito. Mesmo assim ainda há alturas em que as coisas se sobrepõem e lá temos um momento de stress.
Nestas alturas ouve-se o meu chefe dizer coisas do género:
"É preciso é andar para a frente e fazer! Se for preciso eu também desenho!"
Disse isso para projectos de execução, propostas novas e até para fazer um 3D naqueles programas complicados onde só os designers mexem, e a quem se paga balúrdios por imagens finais.
Mas para ele é tudo simples, faz tudo, sabe tudo, resolve tudo.
Zero. Zero é o número de vezes que ele cumpriu fosse o que fosse que tinha prometido.

É preciso telefonar a algum cliente, para fazer contactos e angariar trabalhos. Combina com o director acima dele a lista de nomes para quem cada um deverá ligar. Enrola, enrola, enrola, até que o tal director acaba por dizer: "Ok, eu telefono!", depois de ter perguntado três vezes se já tinha feito os telefonemas.
Zero. Zero foi o número de telefonemas que ele fez.

Há uma reunião com um cliente qualquer, ou na obra. O director acima dele pergunta: "Vens?" (que é mais uma pergunta retórica). Ele responde: "Não, não tenho tempo agora", ou, "Não, acho que não é preciso ir". O outro dá a volta aos sapatos, e lá vai ele sozinho.
Zero de vontade em participar no que quer que seja. Zero de iniciativa.

Aparece uma pequena proposta para fazer, uma coisa que se resolve numa tarde se houver concentração e dedicação. Não há ninguém disponível, estamos todos ocupados com outras tarefas. O director acima dele pede-lhe para ser ele a desenvolver essa proposta. Enrola, vai tirar uma fotocópia, suspira, levanta-se novamente com as mãos nos bolsos, sempre no seu registo sinfónico "hummm hummm hummm".
Às tantas pergunta-nos: "Olhem lá, o Não Sei Quantos pode parar com o que está a fazer, para fazer aqui uma coisa?"
Silêncio. Olhamos para ele e balbuciamos qualquer coisa parecido com um "Pode", resmungado entre dentes.
Zero. Zero é o que ele vai fazer nesta proposta. Safou-se airosamente do trabalho, limpinho!

E agora tu perguntas-me, A., o que é que ele faz o dia todo?

Não sei. Escreve porque oiço o teclado (e-mails e messenger). Vê alguma coisa porque oiço o click do rato (sites na net, e de vez em quando ri-se sozinho).
Zero. Zero é o trabalho que ele faz o dia todo.

Mas há uma coisa que ele sabe fazer bem:
Mandar alguém fazer por ele.



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