A história dela não tem sido fácil, sobretudo a nível pessoal. Vive sempre intensamente as coisas, é daquelas pessoas que pensam bastante. Mas é espontânea e cheia de força.
Ora, só para enquadrar, ela é "benzoca" ou seja, família do Estoril, tem amigos com nomes pomposos, andou em colégios "benzocas" e católicos. Tem uma fé inabalável na religião católica e com isso fé inabalável nas premissas e valores com que foi educada. (Até aqui, nada de especial, aliás, encontro muitos pontos em comum connosco, apesar de não termos o nível de "conhecimentos" que ela tem).
Apesar desta faceta "benzoca", nada nela deixa transparecer esse facto, a não ser quando a conhecemos melhor. É das pessoas mais humildes e boa onda que eu já conheci. Dá-se bem com todos, e para ela não há distinções, e não é nada, mas mesmo nada arrogante (ao contrário de muita gente que conheço...) É, posso afirmá-lo com toda a certeza, uma pessoa muito inteligente.
Resumindo a história dela, sendo uma romântica irremediável, já esteve noiva, e pouco tempo antes do casamento foi tudo anulado. Achou que não era aquilo que queria, o noivo era mais velho...enfim, acabou. Passou por um período conturbado, meio depressivo, engordou, mudou de trabalho (o noivo era o patrão), sempre num turbilhão de acontecimentos, e ela viu-se sem controlo sobre a sua vida.
Nesse momento menos bom, encontrou outra pessoa que passava por uma situação semelhante. A amizade cresceu e lá começaram a namorar. A expectativa era, sem dúvida, o casamento. Mas o rapaz também pensava muito, bastante indeciso, e nunca deu o passo em frente. Ela fez-lhe um ultimato, ou casamos/vivemos juntos e construimos algo em comum, ou vais à tua vida, e eu vou à minha. Agitou, mas não deu grande resultado. Acabou. Mais uma vez tudo aconteceu, inclusivamente foi pseudo-despedida.
Mas, caramba, aguenta-se com uma força enorme, com uma clareza incrível, e uma determinação em ser feliz! Acima de tudo, entendo-a.
Neste momento ela está numa fase de reflexão, mas de grande entusiasmo pela vida, e principalmente em ebulição. A energia dela não se esgota, e sempre num ritmo acelerado. Não pára quieta.
E na semana passada disse-me o seguinte:
"Já decidi o que vou fazer quando o meu contrato acabar. Vou viver para a Índia. Vou fazer voluntariado, não sei quando volto, só sei que vou"
E eu, em vez de me sentir confusa, ou chocada, ou pensar que era a coisa mais absurda do mundo, disse calmamente: "Olha que boa ideia! Se eu não estivesse na fase da vida em que estou, era capaz de ir contigo!"
Aquilo saiu-me sem pensar, mas foi do mais sincero que podia dizer e sentir.
Porque a liberdade que uma pessoa tem de escolher o que quer na vida, é impagável. E saber que estou aqui, neste momento, a viver de novo, mas que é uma vida que escolhi e que posso fazer escolhas e controlar o que quero e o que não quero, é a maior liberdade que um ser humano pode ter.
E a liberdade da M. em escolher ir é extraordinária. E sei que não é fugir, é só ir. E voltar. E ser ela própria.
É muito triste fazer as coisas por não ter escolha...nem que seja por medo de perder alguma coisa ou alguém.
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