segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Grrrrrr...

Outra das carcterísticas da estupidez humana, já apontei há uns tempos uma, é a falta de noção da realidade no que diz respeito aos vencimentos mensais. Tenho sofrido com isso desde que comecei há trabalhar, já lá vão uns dez anos. (suspiro...)
O critério começa por ser o mais errado possível, que é a comparação. Ora, é preciso ter uma base de negociação, óbvio, e ter uma noção do que outros colegas de profissão ganham é um dos dados para definirmos essa base. Até orque nas entrevistas perguntam-nos sempre qual é o vencimento que queremos.
Mas o problema está nas pessoas que já estão a trabalhar e querem um aumento. Se esse aumento não é dado descarregam uma série de queixas, incompreensões, injustiças e ,no final, o famoso "além disso a não sei quantas ganha mais do que eu, entrou há uns meses já a ganhar mais e eu faço o mesmo que ela faz".
Pronto, entrou a estupidez humana ao serviço. Será que não entendem que esse argumento não serve?
E pior é quando alguém me diz, directamente um "pois, mas tu és mais nova, eu já trabalho aqui há cinco anos e ganhas mais do que eu!"
E o que é que eu tenho a ver com isso? Se eu fui contratada, foi pelo meu trabalho, currículo, experiência, etc, não por ser sobrinha ou amiga da filha do patrão. Se me pagam o que pedi, é porque acharam justo. (e não é nada de especial, garanto)
Eu também já passei muitos anos a ganhar muito menos, e a ver pessoas a serem contratadas a ganhar mais, só porque vinham do estrangeiro, mas não sabiam fazer dois riscos seguidos. E indignei-me, claro. Mas rapidamente percebi que hoje em dia só conseguimos ter um vencimento consideravelmente maior se mudarmos de empresa. Porque já não há carreiras como antigamente.

Infelizmente não acaba aqui. Também já tive de ouvir desabafos dos mais novos, que acabaram o curso há 2 ou 3 anos, sobre as injustiças do mundo do trabalho, e porque estão a recibos verdes e não conseguem ser independentes, etc. No fim terminam com um brilhante "pois, mas tu não sabes o que é não ter dinheiro no fim do mês, e ter de contar os tostões".
O quê?!? Não sei? Então mas acham que eu acabei o curso e comecei logo a ganhar balúrdios? Sim, porque devem achar que eu ganho uma fortuna! E hoje faço o que faço e tenho as condições que tenho graças a muito trabalho, esforço, lágrimas, horas de sono perdidas, e um quase esgotamento de tanta frustração que me fizeram sentir. A ganhar uma miséria. Não estive propriamente à sombra da bananeira. E foram dez anos disto tudo. Dez anos para concluir que, provavelmente, este é o auge da minha "carreira" profissional. Daqui para a frente é uma incógnita e não há perspectivas nenhumas.
E esta gente parece não ter noção da realidade.
Sim, tive sorte nas oportunidades que me deram, e agarrei-as como pude. Mesmo não adorando o que faço, tenho brio no meu trabalho e tento fazê-lo bem. E isso tem sido esta a minha moeda de troca. Apenas o meu trabalho.

Mas não me queixo. Acima de tudo, não me queixo.

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