quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Nada...

A sensação que tenho é de que escapei de uma bala. Passou mesmo ao lado.

Infelizmente sei a sensação amarga que fica quando somos atingidos.
Sei o que é ouvir as palavras "dispensar", "não há trabalho", "não és só tu, é uma dispensa geral". Dessa vez foram quinze. Quinze pessoas dispensadas e apanhadas completamente desprevenidas.
O chão foge, o tecto abre-se, as paredes andam à roda, o coração sai do peito, e nem se sabe muito bem porquê. Eu fiquei sem reacção, sem palavras, sem pensamentos. O cérebro esvaziou-se de tudo o que é racional ou irracional e fica apenas um som contínuo de...nada.
Perguntam qualquer coisa, não há resposta, argumentam, e acabo por abanar a cabeça, como que a entender a situação. Dão a volta ao assunto dizendo que é mutio difícil,, que lhes custa muito, mas tem de ser, senão a empresa não sobrevive.
Nada, nem um sentimento, nada. Vazio completo.
Quero lá saber de justificações ou de consciências pesadas. Nada.
Uns vão, outros ficam.

Ontem estive do lado dos que ficam. Não sei se é melhor, talvez seja só adiar o fim de uma coisa condenada à partida.
Mas a sensação não é diferente. O vazio é o mesmo, as palavras falham, obrigo-me a pensar, a reagir para poder articular uma palavra e, novamente, nada.
Foram 4 pessoas dispensadas, e reduções de ordenado para os que ficam.
Sem contar com os que se foram embora pela sua vontade. Somos cada vez menos.

E a única coisa que me ocorre é: e eu? O que é que eu quero fazer?
Porque não somos o que fazemos, e podemos ser quem quisermos.
Malditos preconceitos desta profissão. Arrogância e compadrios, contactos para aqui e para acolá, cinismo, pancadinhas nas costas, hipocrisia e a completa falta de noção de que só têm um assunto para falar. A profissão.
É triste passar um serão em que o único assunto é aquele, e os que nada têm a ver com isso fartam-se e sentem-se aborrecidos, para não dizer ignorados.
E sabes bem do que estou a falar, A. Estes meus "colegas" conseguem fazer com que uma pessoa, que não seja do meio, se sinta completamente deslocada e um pouco emburrecida numa simples conversa.

Estou farta. E digo isto com desilusão, não com raiva.

E eu? O que é que eu quero fazer, A.?

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